Os estudos recentes da bioética caminham rumo à desamericanização (no sentido mais estadunidense da palavra) individualista e, economicamente, liberal, onde a antiga concepção hegemônica dá espaço à visão político-social, alinhada à globalização, que propõe conceitos éticos mais amplos, buscando o estado de bem-estar social das comunidades.
Cada vez mais procura-se entender as necessidades particulares de cada região do mundo. Em regiões especificas encontram-se problemas próprios, onde uma visão ética que seja única e universal não se faz tão útil. Como exemplo, posso pontuar a questão da desnutrição em alguns países africanos, situação que não ocorre em grande parte dos países da Europa e América do Norte. Seria moralmente correto que se adotasse os mesmos princípios éticos, apesar das inseguranças dessas populações?
A solidariedade, analisada pela ótica da bioética, pretende nos equiparar a todos, do ponto de vista antropológico, ou seja, na condição de seres humanos. Indo na contramão dos conceitos e ideologias pré-estabelecidas, a nova Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos (2005) nos coloca em condição de equidade com aqueles que estão mais vulneráveis, não se posicionando a parte dos direitos e interesses individuais, mas se inserindo lado-a-lado na luta por justiça social àqueles que mais necessitam.
Para viabilizar tais conceitos, deve-se analisar e, principalmente, conhecer as questões sociopolíticas e culturais nas quais a comunidade está enquadrada. Entender as vulnerabilidades que atingem determinados grupos, sejam elas tanto biológicas como idade populacional, doenças e epidemias, quanto sociais como condição socioeconômica, questões ligadas à acesso a alimentação, saneamento básico e políticas públicas, se faz imprescindível para que um profissional possa trabalhar com os devidos princípios éticos dentro de sua área de atuação e
assim respeitar e proteger a sociedade à qual se encontra.
Falar de bioética na prática, e não no sentido conceitual do assunto, obriga-nos a
conhecer, desvendar e entender a sociedade à qual fazemos parte. Mapear seus problemas e suas feridas de maneira real, não ideológica, é o caminho para que o profissional da saúde exerça sua função de maneira ética e respeitosa para com o meio em que habita. O atuante da saúde deve se alçar ao mercado, não com uma visão monetária, almejando sempre o acúmulo de lucro e a exploração a partir das vulnerabilidades que observa da comunidade que o cerca, mas tem a obrigação moral de se aproveitar das fraquezas que o circundam para exercer a
justiça-social na condição mais humana do ser.
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